#015 - O ESG para investidores

O jogo do mercado financeiro agora é ser ESG

Lucrar e distribuir dividendos é bom, mas fazer isso às custas do meio ambiente ficou no passado. O mercado financeiro mundial está mudando rapidamente e exigindo das empresas um compromisso sério com a sustentabilidade. A regra agora é se mostrar parte da solução de preservação do planeta. O nome desse jogo? ESG (Environmental, Social and Governance) ou, em bom português, ASG (Ambiental, Social e Governança).

A companhia que quiser sobreviver nesse mundo e atrair investidores nos mercados de ações e de dívida não pode mais se dissociar dessas três letrinhas. ESG sintetizam os critérios de conduta pelos quais as empresas de todas as áreas têm sido avaliadas e catalogadas pelo mercado.

Resumo: ESG não é caridade. É, sim, propósito e uma boa ferramenta de análise de investimento – a percepção é de que essas empresas são menos disruptivas, se mostram mais sólidas no longo prazo e menos suscetíveis a riscos e quebras.

ESG chegou para ficar no Brasil

O tema da sustentabilidade não é novo, mas, no Brasil, os investidores nunca demandaram (e questionaram) tanto o impacto socioambiental e as práticas de governança das companhias.

Três anos atrás, quase ninguém no país dava bola à sustentabilidade. Em uma conversa com Cassio Politi e Pedro Lopes, apresentadores do podcast Sala de Negócios, da Mazars do Brasil, Fabio Alperowitch, CEO da Fama Investimentos, conta que só nos últimos anos o mercado financeiro passou a se importar com ESG.

“Agora, é diferente. Os investidores estão de olho nisso, premiam as empresas mais sustentáveis, excluem ou cancelam as menos sustentáveis.”

Fabio Alperowitch (CEO da Fama Investimentos)

Ele lembra que a mudança de olhar foi significativa. “Até pouco tempo, não fazia a menor diferença uma empresa se mostrar sustentável ou não. As ações não iam subir mais ou menos. Não haveria mais investidor preocupado ou curioso sobre a companhia”, diz.

Avalanche ESG

Fato é que o número de companhias brasileiras ESG está em plena expansão: até junho, uma avalanche de R$ 54 bilhões foi despejada em captações relacionadas à sustentabilidade ambiental (os green bonds) e social, segundo a avaliadora independente Sitawi Finanças do Bem.

Esse volume é quase o dobro dos R$ 28 bilhões captados em 2020 – no mundo todo, foram emitidos US$ 732 bilhões deste tipo de dívida, 29% a mais que no ano anterior.

Uma boa parte do sucesso atual das ESGs vem do empenho da B3, que mantém há mais de uma década o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), considerado uma régua importante do mercado. Criado em 2005, o ISE foi o quarto índice de sustentabilidade criado no mundo com o intuito de somar as práticas sustentáveis às métricas tradicionais aplicadas a investimentos, como retorno sobre o capital empregado, margem bruta e margem operacional.

Risco é acreditar em “meias verdades”

Com um mercado tão recente em desenvolvimento no país, e que ainda se ressente de critérios objetivos e padronização das informações, a B3 estuda agora regras mais sólidas de avaliação das empresas, para que os investidores não sofram com dados de baixa qualidade divulgados nos relatórios de sustentabilidade, que não são obrigatórios.

Isso porque, se é certo que nem tudo o que é divulgado nesses relatórios pode ser carimbado como “mentira”, o risco maior é de induzir o investidor a acreditar em “meias verdades”.

Como sequer há critérios rígidos e um padrão a seguir, a tendência é de a companhia que o publica ressaltar o que é bom e esconder o que é ruim. Isso dificulta a análise e cria brecha para a chamada greenwashing, ou “maquiagem verde”, que se revela quando a empresa só parece ser ESG, dando ao mercado a ilusão de ser sustentável por ter avançado em uma agenda específica.

A lição que fica é a de não se deixar fascinar por uma ação específica que possa mascarar uma lista de graves problemas ambientais persistentes no dia a dia de uma companhia e manter o olhar bem atento sobre seus processos como um todo.

Quais são os preceitos ESG

Não há dúvidas, no entanto, em relação aos preceitos ESG: eles têm a ver com o impacto que decorre dos negócios da companhia.

São mais bem avaliadas aquelas que se mostram comprometidas com a redução dos danos ambientais, sociais e de governança no mundo e, para isso, vêm se mobilizando para tornar sustentáveis seus processos internos, adaptando seus práticas a longo prazo.

Há aquelas cujo foco está nos fatores ambientais, como reduzir a poluição e as emissões de gases da companhia, promover o uso eficiente de recursos naturais (energia, água ou insumos) na produção e a gestão de resíduos e efluentes. É possível ainda pensar em inovação de produtos por meio de ecodesign.

As companhias que voltam seus esforços nos fatores sociais incrementam a relação com os stakeholders. Seu ecossistema (colaboradores, clientes e comunidade) é diverso, inclusivo, protegido e respeitoso.

Além da inclusão e diversidade no ambiente corporativo, se as melhorias estiverem concentradas nos fatores de governança, os acionistas serão prioridade no longo prazo, o que significa manter boas políticas de gestão e controle (compliance).

Apresentação: Cassio Politi e Pedro Lopes. Convidado: Fabio Alperowitch (CEO da Fama Investimentos)

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