Transformação Digital na Auditoria Interna: um novo paradigma

A transformação digital redefiniu o panorama corporativo, impulsionando as organizações a adotarem tecnologias emergentes. Essa mudança não apenas alterou a maneira como as empresas operam, mas também como a função de auditoria interna deve se adaptar e evoluir.   

Ao mesmo tempo que oferece novas oportunidades, também apresenta desafios significativos, com a crescente dependência de tecnologias avançadas, como inteligência artificial (IA), big data e automação, a auditoria interna precisa se adaptar para garantir a integridade e a eficácia dos controles e processos. 

Adaptação à nova realidade tecnológica 

A função de auditoria interna deve evoluir continuamente para incorporar tecnologias modernas e metodologias que permitem análises mais rápidas e precisas e aumentam a eficiência e a eficácia dos processos.   

Ferramentas como as de análises de dados e plataformas de automação possibilitam detectar riscos que poderiam ser ignorados em auditorias convencionais. Algumas das principais tecnologias e técnicas a serem adotadas incluem o uso de ferramentas de Data Analytics, RPA, Inteligência Artificial e outras aplicações diversas para identificar áreas de risco potencial antes que elas se tornem problemáticas. 

Com o uso de ferramentas de Data Analytics, é possível ter em mãos insights valiosos ao identificar padrões e anomalias. Utilizando ferramentas de BI (Business Intelligence), os auditores podem criar dashboards interativos e relatórios detalhados, permitindo uma visualização clara das informações e ajudando na tomada de decisões baseada em dados concretos. Estas ferramentas permitem a realização de auditorias internas mais rápidas e precisas, identificando riscos que podem passar despercebidos em análises tradicionais e reduzindo o risco de avaliações por amostragem. 

Já a automação de processos repetitivos e baseados em regras é possível através de RPA (Robotic Process Automation, no qual explicamos neste artigo), aumentando a eficiência e reduzindo erros humanos. Com a automação, as tarefas rotineiras são realizadas com maior precisão, permitindo que os auditores se concentrem em áreas de maior risco e complexidade, como a avaliação de controles críticos e a análise de processos de alta importância. 

A inteligência artificial, por sua vez, pode ser utilizada para análise preditiva e detecção de fraudes. Ferramentas baseadas em IA podem analisar grandes volumes de dados para identificar comportamentos anômalos e padrões suspeitos, ajudar na modelagem de cenários de risco e na previsão de futuras áreas de preocupação, com base em tendências históricas e dados atuais, ajudando a antecipar problemas antes que se materializem.   

Outras ferramentas e aplicações de transformação digital na auditoria interna, como de automação de fluxos de trabalho e processos de aprovação, e de compartilhamento de documentos facilita a colaboração e o gerenciamento de documentos de auditoria. Essas ferramentas ajudam a garantir que todas as informações sejam centralizadas, acessíveis e atualizadas, promovendo uma comunicação eficiente e a integração entre equipes.   

Benefícios e desafios da transformação digital na auditoria interna 

O investimento em tecnologias emergentes e transformação digital na auditoria interna traz benefícios significativos, como a melhoria na qualidade dos reportes – que permitem uma representação mais precisa e detalhada dos dados auditados -, o aumento da eficiência dos auditores – reduzindo o tempo necessário para realizar auditorias e permitindo que os auditores internos se dediquem a análises mais complexas e a projetos de maior impacto estratégico – e, também, proporcionando um maior suporte à tomada de decisões, já que com dados mais precisos e análises profundas, os auditores internos estão melhor equipados para fornecer insights que suportem a tomada de decisão estratégica na organização. 

No entanto, a adoção de novas tecnologias e estratégias de transformação digital na auditoria interna apresenta riscos que precisam ser geridos com cuidado: 

  • Privacidade de Dados: Com a coleta e análise de grandes volumes de dados, é essencial garantir que a privacidade dos dados seja protegida. Os auditores devem assegurar que as práticas de coleta, armazenamento e processamento de dados estejam em conformidade com regulamentações como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).  
     
    A implementação de medidas de proteção de dados e a realização de avaliações de impacto à privacidade são fundamentais para garantir o cumprimento das normas e proteger as informações pessoais dos clientes.  
  • Volume e Integridade dos Dados: A eficácia das ferramentas digitais depende da qualidade e integridade dos dados. É crucial garantir que os dados utilizados sejam precisos e completos, e que os processos de validação e verificação sejam robustos. A manipulação inadequada dos dados pode levar a conclusões errôneas e comprometer a qualidade da auditoria. Os auditores devem adotar práticas rigorosas para assegurar a integridade dos dados e evitar erros ou manipulações.  
  • Limitações Tecnológicas: Apesar das tecnologias avançadas oferecerem grandes benefícios, elas têm suas limitações. Ferramentas digitais devem ser complementadas com revisões manuais e testes críticos para garantir a precisão dos resultados.  

A dependência excessiva de tecnologias pode levar a falhas na identificação de riscos ou problemas que exigem uma análise mais aprofundada. Os auditores devem estar cientes das limitações das tecnologias e garantir que elas sejam usadas como facilitadores e aceleradores, e não como a única fonte de análise ou substituição da expertise profissional e força de trabalho. 

Estratégias para uso eficaz de tecnologias 

Para maximizar o uso de tecnologias de transformação digital na auditoria interna, é crucial uma abordagem equilibrada que inclua validação contínua, educação e capacitação da equipe, e uma integração transparente entre métodos tradicionais e digitais.  

A realização de revisões regulares e validações das análises geradas pelas ferramentas digitais é essencial. Os auditores devem verificar a precisão dos dados, validar os algoritmos utilizados e garantir que as conclusões sejam consistentes com os resultados esperados. A revisão contínua ajuda a identificar e corrigir problemas antes que eles impactem a qualidade da auditoria. 

Por sua vez, a evolução da auditoria interna também depende do desenvolvimento profissional contínuo de seus membros. A equipe de auditoria deve ser treinada, com conhecimento técnico e ético, para utilizar as ferramentas digitais de forma eficaz e compreender suas limitações.  

Programas de capacitação contínua, que envolvam novas tecnologias, ética em IA e métodos avançados de análise de dados, são necessários para manter a equipe atualizada com as melhores práticas. A educação contínua ajuda a garantir que os auditores possam aproveitar ao máximo as tecnologias e aplicar o conhecimento adquirido de forma eficaz. 

Implementar as novas e emergentes tecnologias exige uma abordagem transparente e responsável. As organizações devem ser claras sobre como a IA é empregada e garantir que há revisões humanas nas informações e decisões geradas automaticamente.  
A responsabilidade pelas ações da IA deve ser claramente definida para manter a confiança e a integridade dos sistemas e dos reportes de auditoria. A auditoria interna tem um papel crucial em garantir que as práticas de coleta, armazenamento e uso de dados estejam em conformidade com as leis aplicáveis e com os padrões éticos. 

Além disso, a combinação de técnicas tradicionais de auditoria com tecnologias digitais proporciona uma abordagem mais robusta e abrangente. Utilizar a tecnologia para agilizar processos e as habilidades tradicionais para fornecer uma análise crítica e aprofundada cria uma abordagem equilibrada que maximiza a eficácia da auditoria. 

A integração da tecnologia nas operações organizacionais traz desafios significativos. A auditoria interna deve avaliar e mitigar riscos associados ao seu uso, incluindo questões éticas, de privacidade e de segurança da informação. O desenvolvimento de frameworks robustos de GRC pode assegurar que a tecnologia seja usada de forma responsável e eficaz.  

A auditoria interna deve, também, desenvolver competências para auditar tecnologias emergentes. Isso inclui entender as tecnologias subjacentes, como machine learning e processamento de linguagem natural, e o impacto potencial dessas tecnologias nas operações e estratégias empresariais. 

Setores na vanguarda da transformação digital 

Setores como o bancário e o de saúde estão liderando a adoção de tecnologias digitais, que trazem benefícios para suas operações e, como explorado neste artigo, riscos inerentes que são levados em conta pelas empresas destes setores.  

No setor bancário, por exemplo, a automação têm sido uma tendência crescente. Também tem sido observado no setor ampla adoção da ciência de dados e de IA para melhorar análises detectivas e preditivas de transações, o que tem reduzido significativamente o tempo de resposta e aumentado a precisão na detecção de fraudes e erros operacionais – possibilitando uma atuação muito mais focada do auditor interno nos temas de maior relevância. 

Já na saúde, a transformação digital tem proporcionado melhorias no atendimento ao paciente e na gestão de dados clínicos. Tecnologias como telemedicina e análise de grandes volumes de dados estão revolucionando a prestação de cuidados, tornando os serviços mais acessíveis e eficientes. E neste setor com nível de exposição critico a riscos de fraudes e corrupção, o auditor precisa utilizar igualmente à operação tecnologias para garantir a eficácia e performance nos seus trabalhos.   

Conclusão 

A utilização de tecnologias por auditores internos já é uma realidade consolidada, e essa tendência promete fortalecer ainda mais a função do auditor, além de maximizar os benefícios de uma auditoria interna bem direcionada. Tecnologias como IoT estão sendo empregadas para inventariar grandes centros de distribuição e monitorar acessos, enquanto a análise de dados reduz significativamente o risco de avaliações por amostragem. A inteligência artificial desempenha um papel crucial na identificação rápida de desvios e não conformidades, além de identificar tendências e mudanças nos comportamentos de risco. 

As ferramentas de análise de dados oferecem insights valiosos que fundamentam as decisões dos auditores internos, permitindo que a auditoria melhore a performance organizacional. Isso oferece aos acionistas a segurança de que a organização está evoluindo de acordo com seus interesses. A auditoria interna está, assim, enfrentando uma era de transformações significativas, incorporando sua função de consultoria no dia a dia e atendendo às expectativas dos stakeholders em relação aos resultados e ao valor gerado por suas avaliações e pelo uso de novas tecnologias. 

Para manter-se relevante e eficaz, é essencial que a auditoria interna se adapte tanto tecnologicamente quanto estrategicamente. Ao integrar novas ferramentas e métodos com práticas tradicionais, a função pode garantir que sua transformação seja um vetor de inovação responsável e sustentável, alinhada aos valores e estratégias de longo prazo das empresas. Esse caminho assegura um papel proativo na governança corporativa na era digital, fortalecendo a posição da auditoria interna como um pilar essencial de confiança e integridade, além de posicioná-la como um facilitador estratégico, ajudando as organizações a navegarem em ambientes cada vez mais complexos e a alcançar seus objetivos com segurança e eficiência.